Disponibilizo aqui a crônica que saiu no Segundo Caderno do Jornal ZH de sábado dia
Biblioteca falada
06/06/2009.
Autor: NILSON SOUZA
Tem muita desgraça neste mundo, mas também tem gente fazendo coisas maravilhosas que nem sempre ganham o destaque que merecem. Tomei conhecimento esta semana de um projeto comovente, que está em andamento no interior de São Paulo, na cidade de Bauru. Logo que li a respeito, fiquei com coceira nos dedos – e no cérebro – para escrever sobre ele, na esperança de contribuir de alguma maneira para multiplicá-lo. Chama-se Biblioteca Falada e consiste na gravação de audiolivros destinados à Escola para Cegos do Lar Santa Luzia, uma instituição que abriga deficientes visuais no interior paulista. Traduzindo: estudantes gravam textos de livros, revistas e jornais para serem ouvidos por pessoas que não podem ler.A ideia é de um professor da Universidade Estadual Paulista. Ele – João Chamadoria é o seu nome – coordena os alunos do curso de Jornalismo que trabalham como voluntários na gravação de CDs, revezando-se na leitura das obras. Ao mesmo tempo em que treinam locução, os jovens emprestam suas vozes para o relato que possibilitará aos deficientes uma inesquecível aventura literária.
Graças a esse trabalho, as deliciosas crônicas do gaúcho Luis Fernando Verissimo são conhecidas pelos ceguinhos de Bauru, assim como o humor popular e as expressões nordestinas do escritor Gustavo Arruda, de Pernambuco. Os livros falados são escolhidos principalmente pelo seu potencial de despertar interesse nos ouvintes, mas também pela linguagem de fácil compreensão, uma vez que a maioria dos deficientes possui pouca bagagem cultural.
O interessante desta experiência é que ela pode ser replicada até mesmo por alunos do Ensino Médio. Com a facilidade que os jovens têm hoje para acessar equipamentos eletrônicos e para manuseá-los, a produção de um CD é quase uma brincadeira. Um pouco mais difícil, talvez, seja convencê-los a ler um livro. Mas, por uma causa dessas, tenho certeza de que se mobilizariam. Alguns, inclusive, já fazem trabalhos voluntários em entidades carentes, lendo histórias para idosos.
A leitura em voz alta é sempre um aprendizado de duplo sentido, que enriquece quem ouve e quem lê. Quando este trabalho é feito em grupo, com o acompanhamento de um professor, transforma-se numa atividade ainda mais produtiva. Daí a transformá-lo num livro falado é apenas um passo – um pequeno passo para quem tem todos os sentidos perfeitos e um grande salto para quem recebe a oportunidade de sair da escuridão para a luz da literatura.
Se quiserem conferirem o original o link é esse: <http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2536014.xml&template=3916.dwt&edition=12460§ion=999>
Abraços a todos, boa leitura e em especial para o colunista Nilson Souza, pois foi feliz numa sua coluna.